quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A piada do selim

Quando em conversa surge o facto de praticar ciclismo de montanha, e por consequência as inúmeras horas que passo em cima da bicicleta, constantemente sou confrontado com questões (ou mesmo piadas) do selim...
Sorrio geralmente, mesmo que já tenha ouvido a mesma piada dezenas de vezes.
No intuito de fazer serviço público, e para aliviar o fardo da ignorância que carregam, seguem umas notas:

O selim magoa o rabo?
Sim!
É um facto. É talvez o que mais custa no início - isso e encarar subidas longas - e leva tempo até que o corpo de habitue. Mas depois de tantas horas, isso passa a ser cada menos problemático, até que se torna normal. E não, não gostamos de sentir dores no rabo, por isso há cada vez melhores calções, selins mais anatómicos, cremes específicos... E sim, o selim faz jeito para suportar o peso do corpo, e não prescindimos dele.

O porquê da lycra?
Conforto!
Quando comecei a pedalar, só usava calção largo e t-hirt... Depois calção almofadado pelos motivos que expliquei acima. Entretanto o algodão deixa de ser uma boa escolha quando pedalas a sério, pois pedalar a sério faz com que transpires (e muito), e descer uma encosta a 50kms/hora com uma t-shirt de algodão faz com que apanhes um frio do... E quando está calor a tua pele não respira, e não é nada cool andar com uma t-shirt a pingar, e com manchas.
O calção de lycra surge como consequência de tudo referido até agora. Para ir à praia, para ir para o trabalho, eu não vou de lycra. Mas para pedalar 50, 60, 70, ... 100 kms, e terminar a volta sem assaduras, e ter de parar para puxar o calção para cima, faz diferença.

Chamas algum nome à tua bicicleta?
Não!
O fabricante já tratou disso, e até lhe colou autocolantes. Gosto da minha bike, mas sobretudo de desfrutar dela. Não evito descer um vão de escadas para não "entortar" as rodas... meto-a nos trilhos mais sinuosos, e de quando em vez na lama. Sei que a lama não lhe faz bem, mas a mim faz!
É um meio para atingir um fim. Eu vejo-a como uma lupa que amplia a minha liberdade... não consigo correr 6h seguidas (pelo menos para já), mas consigo pedalar 6h, curtir kms de paisagens, ver inúmeras coisas num espaço de tempo mais reduzido, ou simplesmente colocar o meu coração a bater forte durante muito tempo seguido.

Namorada?!
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É uma bicicleta pá!
É constituída por uma liga metálica, e uma série de componentes mecânicos. Não sei o que vocês fazem com os vossos(as) namorados(as), mas alguma coisa anda a falhar aí. Eu não falo com a minha bicicleta, não durmo com ela, não a levo ao cinema, nem a abraço quando chego a casa... Não é a bicicleta, é o desporto!
Além disso se eu quisesse companhia e retribuição, arranjava um cão.

O problema é que:
Quando somos crianças adoramos a bicicleta...
Fechem os olhos, lembrem-se da sensação de "voar", de "planar" junto ao solo, sentir o vento na cara, desfrutar de uma enorme sensação de liberdade... Lembram-se?!
Mas depois crescemos, e nem todos temos o dom de ir em busca das sensações que nos põem um sorriso na boca, porque somos corrompidos pelo meio... porque para fazer desporto, é muito mais socialmente interessante sairmos de casa no nosso BMW, e irmos até um court de ténis bater umas bolas, ou fecharmos-nos num ginásio a olhar para o espelho (apesar de ser melhor do que nada)!
Seja como desporto, como meio de transporte, como forma de diversão... a bicicleta é um instrumento fantástico.

O verdadeiro atleta:
No ciclismo não podes fazer sinal para o banco quando estás cansado, não podes parar e caminhar... não podes desistir (pelo menos até conseguires voltar a casa).
Muitas vezes quando tens problemas, nem podes pedir ajuda, porque estás no meio do mato... provavelmente num local inacessível a veículos motorizados.
Para teres aproveitamento nos treinos/provas tens de dormir bem, comer bem, e para isso "adaptar" a tua vida social. Há outras formas de viver o desporto, mas para mim há muito que o ciclismo deixou de ser apenas um desporto... é uma forma de vida.
Enquanto em muitos desportos é preciso ter uma bola, no ciclismo é preciso ter duas!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Just The Way You Are

Sabem aqueles hits musicais, aquelas canções que nos perseguem no auto-rádio, e que por mais que a gente mude de estação, eles acabam por aparecer na nossa frequência?
Uma dessas músicas da moda é este "Just the way you are" de Bruno Mars (vídeo abaixo).



Nesta composição musical, o sujeito poético - apaixonado cegamente pela sua cara metade - tece os mais rasgados elogios à mulher amada, salienta desde o fio do cabelo, à unha do dedo do pé.
O som fica no ouvido é verdade, o rapaz é afinadinho, a batida pop foi feita para ser radio friendly, e tudo parece bater certo, até ao momento em que um gajo qualquer - possuidor de um blog onde escreve um par de tretas - resolve ouvir atentamente a letra.

Ora bem, a jogada é boa, começa com um par de referências a aspectos físicos da sua companheira. Que ela é linda, e tal... o que de facto, quando dito publicamente tem um impacto forte, e o pode fazer ganhar pontos, nesta batalha diária que é o amor...
Contudo temos aqui um ponto sensível, e este ocorre no momento em que ela lhe formula a pergunta:

- "Pareço-te bem?"

Ao que ele responde:

- "Blá, blá, blá... és fantástica do jeito que és..."

Errado!
Não é que tenha grande experiência no assunto, mas quando uma mulher nos faz uma pergunta do género, muito provavelmente passou horas a arranjar-se, ou mudou o corte de cabelo, ou fez a dieta do courgette e perdeu 2kg, ou comprou roupa nova, ou - e esta é a hipótese mais forte - todas as anteriores...
Se depois tu lhe respondes com um "tu és fantástica do jeito que és", muito provavelmente estás tramado! meteste o pé na poça! deste um tiro no pé! (e poderia estar aqui a enumerar metáforas, mas tenho de ir lavar a louça do jantar). É verdade que se não o fizeres também... mas isto tem a ver com a complexidade do mundo feminino, o que neste momento não será alvo de reflexão.
Responder a uma mulher "tu já és fantástica do jeito que és", é como que um insulto, que deita por terra tanto esforço, tanta dedicação, tantas horas no provatório da Zara, no salão de cabeleireiro, e semanas a alimentar-se única e exclusivamente de um legume, que está ali entre o pepino, e o melão, apresentado uma consistência aproximada a uma esponja molhada...

Depois ainda se queixa:
- "Quando a elogio, ela não acredita em mim..."

Pudera!
Pelo menos demora mais tempo... Não a olhes apenas nos olhos, faz um "check-up" rápido, e - agora se são do sexo feminino já podem fechar a página. Obrigado pela visita, voltem sempre... beijo :)
Se são do sexo masculino vão buscar o bloco de apontamentos sff - profiram umas das seguintes frases, que aprendi em filmes americanos:

- Estás mais magra?
- Esses sapatos ficam-te mesmo bem (neste ponto verifiquem se elas estão efectivamente calçadas, e não em chinelos/pantufas...)
- Mudaste alguma coisa no cabelo?
- Essas calças assentam-te mesmo bem (se elas estiverem mesmo de calças)

Ou (e isto no caso de irem sair juntos, exceptuando talvez se for para ir ter com a mãe dela),

- Bem, se fico muito tempo a olhar para ti, vou perder a vontade de sair de casa.

E pronto era só isto...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Medicina no Trabalho

Pertencer a esta elite do mundo laboral - a informática - por vezes obriga-nos a ser sujeitos a consultas de rotina, que avaliam as capacidades para efetuar as tarefas rotineiras deste trabalho. Nessas consultas, o nosso corpo é - superficialmente - escrutinado, sujeito a testes médicos, que corroboram (ou não), a nossa saúde para tal. É um mundo perigoso e altamente competitivo, onde não há margem para falhas. Um pequeno deslize e kabum... provavelmente o equilíbrio do Universo será afetado de forma permanente!

Eram 11h30 da manhã quando me dirigi a uma rua (que não vou dizer o nome), para encontrar uma clínica (que não vou referir qual), onde fui atendido por uma recepcionista (que sinceramente não sei como se chamava).
Após a normal espera a que somos sujeitos - isto mesmo que sejamos as únicas pessoas na sala para ser atendidas - uma simpática enfermeira encaminhou-me para uma sala.
Após me ter feito olhar por uma geringonça, que alternava entre números, letras, cores, e de me meter uns auscultadores com um comando em cada mão - e que certamente tivesse eu 4 anos iria achar o máximo - veio a interjeição: "dispa-se e deite-se na marquesa...". Foi nesse momento que eu pensei: "Isso é que é falar!" Até que me besuntou com um gel pegajoso, e espetou umas coisas frias no peito, acabando com todo o conforto do quentinho acumulado dentro da minha camisola de lã.
Enquanto estava ali imóvel e deitado, a enfermeira proferiu a frase "pratica desporto?!". Respondi um confiante "Sim", enquanto pensava que o esforço e dedicação ao desporto surtiram efeitos estéticos que deixavam o meu corpo desejável à promiscuidade feminina.
"Tem batimentos cardíacos muito baixinhos, isso é muito bom!!". "Ah pois... isso", E pumba a desilusão atingiu-me como um soco seco vindo do nada, e eu fiquei ali a saborear aquela trago a fel na boca. Eu que até gosto de enfermeiras desde a minha puberdade (especialmente após ter tido acesso à Internet)... adiante!!!".

Da enfermeira passei para o médico, que ao entrar no consultório proferiu a frase "dispa-se e deite-se na marquesa..."
Desta vez pensei:
"Mau!!! mas isto é uma avaliação para striper??? Eu sou informático pá!!! Carrego em teclas e arrasto um rato!!! Vestido!!!"

Lá acedi - desde que não seja exame à próstata, por mim está bem - ele auscultou-me, deu-me marteladas nos joelhos, nos braços, espreitou-me os ouvidos, os olhos... verificou a tensão e a pulsação, o peso, a altura, um par de perguntas de hábitos sociais e alimentares... perguntou-me se fumava ou bebia (enquanto no meu pensamento eu revia o episódio com a enfermeira e imaginava uma garrafa de bagaço a escorregar pelas goelas...), e mandou-me para casa com a frase:

"Bem, não há nada a dizer... continue assim. Um bom dia!"

Lá tive de trabalhar o resto da segunda-feira :/